No início foi engraçado, mas logo se tornou numa associação
irritante. Após uma centena de vezes a ouvir “Non fai il portoghese! Não faças
o português!” dei por mim a pensar que não gozamos de boa fama, uma vez que
para a maioria dos italianos a expressão está ligada a “mau pagador” ou “aquele
que quer alguma coisa à borla”.
Um pensamento que me acompanhou durante estes dois anos em
que estou a viver em Itália. Se não era o Cristiano Ronaldo vs. Mourinho, era a
famigerada expressão. Seria eu que regateava demasiado? Mas afinal quem não
gosta de borlas? E porquê apenas os portugueses e não outras nacionalidades?
Ninguém, novos e velhos, me deu até ao dia de hoje uma resposta convincente.
Apenas um encolher de ombros e um sistemático: “É o que se costuma dizer”.
Era uma espécie de inquietação. Uma necessidade de limpar a
imagem de um povo que não sabe outra coisa senão pagar. Pagar à
"troika", pagar pelos erros dos governos, pagar cada vez mais
impostos, pagar para trabalhar. E nós, povo obediente e cumpridor, pagamos.
Tudo e mais alguma coisa.
Face a este facto, e graças à pesquisa de uma amiga, foi
possível devolver a verdade, ou pelo menos, a boa fama aos portugueses. Assim,
é preciso recuarmos à Roma do século XVIII. O embaixador de Portugal convidou
os portugueses aí residentes a assistirem gratuitamente a um espectáculo teatral,
a ter lugar no Teatro Argentina, onde para entrar bastava declarar a
nacionalidade portuguesa. Não era necessário convite formal. Ora,
aproveitando-se desta situação muitos romanos fizeram-se passar por
portugueses, usufruindo de um serviço para o qual não tinham título. Daí nasceu
a expressão ainda hoje usada, embora por vezes incorretamente, “fazer o/de
português”.
Publicado no P3 do jornal Público
Crónica
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