domingo, 30 de setembro de 2012

Guilty Pleasure



Eu e a cozinha mediterrânea fomos feitas uma para a outra. Almas gémeas. Assim, juro ser-lhe fiel até ao fim dos dias. Acho que dos países por onde passei, apenas a Bélgica, Irlanda e a Alemanha estão no fundo da tabela das minhas preferências. Ou seja, tudo o que está para norte . Demasiada salsicha, panados e batata frita metidos ao barulho. Chamam a isso identidade gastronómica? Não meus caros, eu chamo a isso comer mal!
Assim, desde que estou na Provence posso ter todos os dias à minha disposição coisas tão boas como o tomate provençal, a uva provençal, a maçã provençal, o pêssego provençal, o rosé e sobretudo, o peixinho fresco que amanhã tentarei comprar no porto (se conseguir acordar às 9h da matina, I doubt). Mas a minha última loucura é a tapenade provençal. Costumo comprá-la no mercado local e é uma verdadeira iguaria. O sabor é super salgado no início, mas logo vai desaparecendo. Vai bem com a famigerada baguette ou com tostas, mas pessoalmente deliro com o pão de azeitonas. Como dizia uma amiga minha espanhola: "Hay fiesta en mi boca!".Antes que o sonho acabe, deixem-me ser feliz com mais uma fatia de tapenade!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Outono



"Si pudiera volver a vivir comenzaría a andar descalzo a principios de la primavera y seguiría así hasta concluir el otoño. Daría más vueltas en calesita, contemplaría más amaneceres y jugaría com má niños, si tuviera outra vez la vida delante. Pero yá vem, tengo 85 años y sé me estoy muriendo!..." Jorge Luís Borges

sábado, 22 de setembro de 2012

Bookaholic

Há alturas da nossa vida em que damos por nós a devorar livros. Oito em seis meses, sendo que até ao final do mês tenho mais dois na mesinha de cabeceira. Chama-se a isto demasiado tempo livre!!! O pior é que pensava que iria ficar cansada num ápice, mas enganei-me. Tempo livre aos molhos para dar e vender.
Graças ao meu guru literário nestes últimos meses descobri e apaixonei-me pela América sulista de Flannery O'Connor, pela ironia de Saramago e as histórias com finais tristes de Murakami. Varri 500 páginas da vida de Fidel Castro e numa tarde terminei um livro sobre anorexia.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Viagem pelas cores de Gauguin e Van Gogh

Amanhã começam as minhas mini-férias, assim que daqui não vou sem deixar uma última sugestão. Dirigida a quem gosta de arte, a quem pensa que não gosta, a quem até sente curiosidade, mas não sabe bem e a quem planeia passar a tarde inteira no facebook.
O destino é Les Beaux de Provence e integra o roteiro das Mais Belas aldeias de França. A essa aldeia, que mais parece saída de um desses jogos de estratégia medievais, dedicarei um post mais avante.

Mas agora "Gauguin, Van Gogh, les peintres de la couleur". O nome de uma exposição única que decorre num local pouco usual, uma pedreira abandonada a cinco minutos a pé de Les Beaux.
O espaço composto por imponentes colunas, outrora talhadas por homens de fato de macaco e  hoje grafitadas com juras de amor, está transformado numa galeria de arte até Janeiro do próximo ano. Um labirinto onde são projectadas as grandes obras destes pintores, dois amigos, que muito se inspiraram na paisagem provençal. Uma natureza morta que ganha vida com recurso às mais sofisticadas técnicas de projeçao e a uma refinada seleção musical.


P.S - Faz algum frio no interior, portanto, não se espantem de entrarem lá a suar e saírem a bater o dente

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A magia da antiguidade

Fugindo do mistral que começa a dar sinais de vida e continuando no encalço romano, a próxima paragem leva-nos às verdejantes margens da Pont du Gard. Sob o rio Gardon, a ponte integrava um dos mais maiores e importantes aquedutos da Europa, mas, hoje só ela permanece intacta.

E é deste encontro entre a natureza e a arquitectura/engenharia romana que encontro um dos locais mais tranquilos em tempo de veraneio. Aqui os turistas não abundam e há sempre espaço nas espreguiçadeiras de madeira, depois de um mergulho nas águas calmas do Gardon. 

Na travessia da ponte é impossível não se sentir esmagada pelos corpulentos arcos que unem as duas margens do rio. Já quando o sol se põe, a ponte ganha uma nova cor, ou neste caso mil. É que nos meses de Junho, Julho e Agosto, a ponte é envolvida num jogo de luzes que atrai os olhares e objectivas dos visitantes. Só ficou a faltar uma banda sonora, de preferência Ennio Morricone .




domingo, 2 de setembro de 2012

"A mais bela muralha" de Orange

As civilizações romanas e gregas sempre causaram um grande fascínio ao comum dos mortais, que em pleno século XXI se admira ainda com tão grandiosas obras. Parece ser o caso de Orange, que para mim não passava de mais uma cidade a caminho de Nîmes e não muito afastada de Avignon. Pois enganei-me desde o momento em que pisei o Teatro Antigo de Orange.

É conhecido como sendo um dos mais bem preservados do mundo, apresentando várias particularidades. A que salta mais à vista é o telhado de madeira, que cobria praticamente todo o recinto, mas que devido a um grande incêndio e à deterioração da fachada, obrigou à reconstrução da cobertura que agora apresenta apenas uma meia lua. Depois há a sua fachada imponente que era ornamentada por cerca de 70 colunas. Hoje restam poucas e a figura central que se crê seja do imperador Augusto, pode ter sido anteriormente a de Apolo, o deus do sol. Roma tinha o seu repositório de estátuas e por vezes bastava só que a cabeça, amovível, fosse substituída por uma diferente. E eis um novo imperador ou deus, conforme a necessidade!

O Teatro de Orange serviu de refúgio, foi prisão e mercado, hoje e passados mais de dois mil anos só as três primeiras bancadas se mantém originais. Era aí que se sentavam os poderosos, estando as bancadas superiores reservadas aos escravos. Mas todos, sem excepção, tinham acesso à cultura gratuitamente.

Sentada na imensidão de bancadas brancas fico a imaginar a multidão em delírio e só os 35 graus me fazem voltar às grutas do teatro, onde a temperatura é espantosamente baixa e eu ganho energias para continuar a visita.

O audio-guide, disponível também em português,é uma peça fundamental. Só assim é possível termos uma ideia tão clara de como era o Teatro de Orange e das suas gentes há muitos, muitos anos atrás.